(Série) Benefícios do Jiu-Jitsu Brasileiro (BJJ) – Idosos (+65)

O Jiu-Jitsu Brasileiro (BJJ) é a principal arte marcial de grappling (ou luta agarrada) praticada no Dojo da Topázio Alentejo, mas o que muitos não sabem é que seus impactos positivos que vão muito além da autodefesa.
Originado do Judô no início do século XX, o BJJ incorporou a filosofia e técnicas de Jigoro Kano (fundador do Judô) para criar um sistema essencialmente focado no combate de solo, sem perder as principais técnicas de projeção. Hoje, ambas as modalidades são conhecidas por desenvolver o corpo e a mente de forma holística (ou seja, completa e integrada), beneficiando praticantes de todas as idades em várias áreas da vida – da saúde física à mental e emocional, passando pela vida profissional, académica, social e para alguns até espiritual.

Diversos estudos científicos sustentam esses benefícios. Investigadores têm observado melhorias significativas na aptidão física (força, resistência cardiovascular e flexibilidade) de praticantes regulares de BJJ (Sports Exercise Science – The Sport Journal). No campo mental e emocional, há evidências de redução de stress, ansiedade, depressão e mesmo sintomas de PTSD (Perturbação de Stress Pós-Traumático) através desta arte marcial como relatado no artigo publicado pela “The Sport Journal“. O mesmo artigo mostra como o BJJ incentiva também a resiliência psicológica e oferecem um forte sentido de comunidade e integração social, ajudando a combater o isolamento, o que é muito importante inclusive no combate a vícios como apostas, jogos, drogas, álcool, etc… Além disso, praticantes relatam ganhos em autoestima, disciplina, motivação e energia diária, comprovando que as lições aprendidas no tatame se traduzem em melhorias no dia-a-dia.
Praticantes têm relatado benefícios mesmo a nível de caráter, ajudando a desenvolver humildade, respeito, cooperação e compaixão.

Nesta série de artigos, vamos explorar em detalhe os benefícios do BJJ – reforçados por dados do Judô, dada a origem comum e semelhanças – em diferentes faixas etárias, desde crianças até idosos. Cada etapa da vida colhe vantagens únicas, embora muitos benefícios se mantenham ao longo dos anos, adaptando-se às necessidades de cada praticante. Se já és um praticante, tenho a certeza de que este artigo pode te motivar ainda mais. Mas se ainda não experimentaste os inúmeros benefícios desta arte marcial, quem sabe este artigo não te incentive a experimentar uma aula experimental conosco 😉. No artigo de hoje vamos entender como o Brazillian Jiu-Jitsu (ou BJJ) pode beneficiar e muito o seu filho ou filha entre os 4 a 12 anos.

Idosos (65+ anos)

Na terceira idade, o foco principal passa a ser manter a qualidade de vida, autonomia e saúde mental. A prática de artes marciais como Judô e Jiu-Jitsu, devidamente adaptada, pode ser extremamente benéfica para idosos – embora de forma mais suave e orientada para prevenção de problemas. Enquanto nem todos os dojos oferecem turmas específicas para séniores, projetos e estudos pelo mundo têm explorado versões adaptadas, com resultados encorajadores.

Um dos maiores perigos nessa faixa etária são as quedas e a perda de mobilidade. Aqui, os princípios do grappling revelam-se preciosos: programas de exercícios baseados no Judô ensinaram idosos a cair com segurança, resultando em menor medo de cair e menor gravidade das lesões caso ocorra uma queda (Global Consensus Statement How Can Judo Contribute to Reducing the Pro …) ( Judo for older adults: Learning to fall (safely) ). Numa síntese de evidências recente, todas as intervenções analisadas mostraram resultados positivos: melhorias de equilíbrio, força, flexibilidade, marcha e desempenho físico geral em adultos com 60+ anos que praticaram exercícios inspirados no Judô ( Judo for older adults: Learning to fall (safely) ). Ou seja, mesmo sem participar de combates intensos, os movimentos e exercícios (como ukemis, alongamentos e deslocamentos básicos) foram suficientes para aumentar a autonomia funcional – idosos mais firmes, mais ágeis e confiantes nos seus movimentos. Alguns estudos registaram inclusive melhorias na densidade óssea após 9-12 meses de prática, indicando benefícios de médio prazo na prevenção da osteoporose ( Judo for older adults: Learning to fall (safely) ). No caso do BJJ, existem academias que acolhem praticantes idosos e focam em exercícios no solo de baixo impacto, alongamentos assistidos e prática leve de técnicas, o que pode ajudar a manter as articulações ativas e a musculatura tonificada sem sobrecargas.

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Os benefícios cognitivos e neurológicos também merecem destaque. A estimulação mental de aprender técnicas, responder a adversários e adaptar estratégias pode atuar como um treino para o cérebro, potencialmente ajudando a preservar funções executivas. Interessantemente, foi observado num estudo que praticantes veteranos de BJJ apresentavam um aumento do fluxo sanguíneo cerebral em repouso e função cognitiva preservada em comparação com pessoas da mesma idade e condição física que não praticavam (Researchers Provide Evidence for BJJ Training Being Good for Long-Term Brain Health). Esses resultados sugerem um possível efeito neuroprotetor – contrariando o receio de que estrangulamentos ocasionais pudessem causar declínio cognitivo, verificou-se o oposto, com sinais de manutenção ou melhoria da saúde cerebral nos atletas de BJJ (Researchers Provide Evidence for BJJ Training Being Good for Long-Term Brain Health). Embora este estudo tenha sido feito com atletas e não especificamente com idosos, os achados alimentam a ideia de que a prática regular e moderada de grappling pode contribuir para manter a mente ativa e talvez reduzir o declínio cognitivo associado ao envelhecimento. De qualquer forma, o que muitos séniores relatam subjetivamente é que as aulas os fazem sentir “mais despertos” e de raciocínio rápido, pois obrigam-nos a sair da zona de conforto mental, aprendendo e reagindo a novos estímulos constantemente – um verdadeiro “usar ou perder” do cérebro.

Os aspectos emocionais e sociais são possivelmente os mais gratificantes nesta fase. A aposentadoria e a saída dos filhos de casa podem, infelizmente, levar alguns idosos a experiências de solidão, depressão ou falta de propósito. Ingressar numa comunidade marcial oferece um antídoto potente. No tatame, o idoso encontra companheirismo – mesmo que esteja rodeado de gente mais nova, é acolhido e incentivado, e frequentemente até paparicado como “o mestre” do grupo se já tiver muita idade. Essa interação intergeracional dá-lhe vitalidade: ele sente-se parte de algo, ganha novos amigos e quebra a rotina monótona. Além disso, conquistar pequenas vitórias (acertar uma técnica, melhorar a alongamento, graduar para um cinto novo adaptado à sua progressão) traz de volta a sensação de realização pessoal, mostrando que nunca é tarde para aprender. Muitos relatam um fortalecimento da autoestima – em vez de se verem como “velhos”, passam a identificar-se como atletas séniores, o que muda completamente a perspetiva com que encaram o dia-a-dia.

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Também há um componente quase terapêutico/espiritual: a prática promove mindfulness e bem-estar. Por exemplo, um idoso ao praticar respiração e concentração para sair de uma imobilização, está a treinar simultaneamente técnicas de relaxamento e foco mental que podem ajudá-lo a gerir dores crónicas ou ansiedades. O fato de vestirem um kimono igual ao de todos e de pisarem descalços o tatame cria uma atmosfera de igualdade e simplicidade que muitos descrevem como pacificadora. Alguns seniores encontram no ritual do treino – aquecimento, alongamento, prática, meditação final – uma fonte de paz interior e ligação mente-corpo, comparável a práticas como o Tai Chi ou o Yoga.

Naturalmente, para idosos, a segurança vem em primeiro lugar. Recomenda-se fortemente treino com supervisão profissional experiente, turmas especiais ou aulas particulares adaptadas, e eventualmente limitar situações de alto impacto. O Judô, por exemplo, pode focar mais em kata (sequências pré-combinadas) e menos em randori livre para evitar quedas bruscas. Já o BJJ pode enfatizar posições estáticas de defesa pessoal e movimentos lentos. Feitas essas adaptações, os benefícios possíveis são amplos: manter o idoso ativo, conectado socialmente, mentalmente desafiado e emocionalmente satisfeito. E para os que já treinaram toda a vida e apenas continuam na faixa 65+, o exemplo de Hélio Gracie continua inspirador – aos 95 anos ainda ensinava e treinava levemente (Too old to roll? Can I start BJJ if I’m over 40? – Gracie Castle Hill), provando que o caminho marcial pode mesmo durar a vida inteira, mantendo acesa a chama da vitalidade.

Conclusão

Do tatame para a vida, os ensinamentos e benefícios do Jiu-Jitsu Brasileiro e do Judô manifestam-se de forma abrangente. Crianças ganham saúde, disciplina e valores; adolescentes encontram um canal para a energia e uma bússola para o caráter; jovens adultos aprimoram corpo e mente, levando resiliência e foco às suas carreiras e relações; adultos de meia-idade redescobrem vitalidade, equilibram o stress e cultivam hábitos salutares; idosos mantêm-se ativos, autónomos e integrados socialmente, colhendo talvez o fruto mais precioso – anos a mais de vida com qualidade.

Comprovados por investigações rigorosas e ilustrados pelos testemunhos apaixonados de quem pratica, os benefícios do BJJ e do Judô transcendem o dojo. Cada faixa etária usufrui de vantagens adaptadas às suas necessidades, mas há um fio condutor comum: a prática marcial promove um estilo de vida positivo, onde corpo e mente se desenvolvem em harmonia. Através do esforço físico, aprendem-se lições de perseverança; através do confronto controlado, cultivam-se paz de espírito e autocontrolo. A velha máxima “mens sana in corpore sano” ganha vida no tatame – um praticante de Jiu-Jitsu/Judô tende a ser simultaneamente mais apto fisicamente e mais equilibrado mentalmente (IBJJF | International Brazilian Jiu-Jitsu Federation) (IBJJF | International Brazilian Jiu-Jitsu Federation).

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É importante frisar que cada pessoa é diferente e os resultados podem variar. Também há desafios – lesões ocasionais, frustrações – mas mesmo estes ensinam prudência e superação. Com orientação adequada e respeito pelos limites individuais, os riscos diminuem e os retornos multiplicam-se. Seja a buscar uma atividade para o seu filho tímido, uma forma de se manter em forma aos 30, um escape ao sedentarismo dos 50 ou um estímulo cognitivo aos 70, o Jiu-Jitsu Brasileiro e o Judô oferecem um caminho: o “caminho suave” que nos leva a ser versões mais fortes, sábias e saudáveis de nós próprios. Quem o trilha, invariavelmente afirma – e a ciência corrobora – que os benefícios se fazem sentir em todas as áreas da vida, numa jornada de melhoria contínua que não conhece idades.


Referências (não citadas diretamente no texto):

  1. BJJTribes – “Looking at whether BJJ really DOES change your life or not”, discutindo relatos comuns de praticantes sobre mudanças de vida através do Jiu-Jitsu. (2021)
  2. Sherdog Forums – Tópico “How has BJJ changed your life?” com dezenas de depoimentos de praticantes (vários autores, 2014) sobre benefícios percebidos (ex.: abandono do tabaco, controlo da raiva, novas amizades, etc.).
  3. MiddleEasy – “The 10 Life Changing Benefits of Brazilian Jiu Jitsu”, artigo enumerando benefícios chave do BJJ (confiança, forma física, paciência, círculo social, etc.) de forma acessível, por Tomislav Zivanovic. (2020)
  4. Easton Training Center Blog – “How Martial Arts Change Lives”, relato pessoal de um praticante que superou ansiedade e comportamentos autodestrutivos através do BJJ, enfatizando melhorias em bem-estar e visão de si mesmo. (s.d.)
  5. Collura, G. L. (2018). “Brazilian Jiu Jitsu: A tool for veteran reassimilation.” Dissertação de Mestrado, University of South Florida. – Explora o BJJ como terapia para veteranos (PTSD, integração social).
  6. Sugden, J. T. (2021). “Jiu-jitsu and society: Male mental health on the mats.” Sociology of Sport Journal, 38(3), 218–230. – Estudo sobre motivação masculina no BJJ e impactos na saúde mental.
  7. Stout, J. R., et al. (2011). “Judo for Children and Adolescents: Benefits of Combat Sports.” Strength & Conditioning Journal, 33(6), 60–63.* – Artigo de revisão destacando benefícios físicos e psicossociais do Judô em jovens, incluindo melhorias de auto-disciplina e respeito.
  8. Gracie Castle Hill Academy – “Too old to roll? Can I start BJJ if I’m over 40?”, artigo motivacional mencionando Helio Gracie treinando até aos 95 anos e exemplos de iniciantes de BJJ na meia-idade. (2020)