O Jiu-Jitsu Brasileiro (BJJ) é a principal arte marcial de grappling (ou luta agarrada) praticada no Dojo da Topázio Alentejo, mas o que muitos não sabem é que seus impactos positivos que vão muito além da autodefesa.
Originado do Judô no início do século XX, o BJJ incorporou a filosofia e técnicas de Jigoro Kano (fundador do Judô) para criar um sistema essencialmente focado no combate de solo, sem perder as principais técnicas de projeção. Hoje, ambas as modalidades são conhecidas por desenvolver o corpo e a mente de forma holística (ou seja, completa e integrada), beneficiando praticantes de todas as idades em várias áreas da vida – da saúde física à mental e emocional, passando pela vida profissional, académica, social e para alguns até espiritual.
Diversos estudos científicos sustentam esses benefícios. Investigadores têm observado melhorias significativas na aptidão física (força, resistência cardiovascular e flexibilidade) de praticantes regulares de BJJ (Sports Exercise Science – The Sport Journal). No campo mental e emocional, há evidências de redução de stress, ansiedade, depressão e mesmo sintomas de PTSD (Perturbação de Stress Pós-Traumático) através desta arte marcial como relatado no artigo publicado pela “The Sport Journal“. O mesmo artigo mostra como o BJJ incentiva também a resiliência psicológica e oferecem um forte sentido de comunidade e integração social, ajudando a combater o isolamento, o que é muito importante inclusive no combate a vícios como apostas, jogos, drogas, álcool, etc… Além disso, praticantes relatam ganhos em autoestima, disciplina, motivação e energia diária, comprovando que as lições aprendidas no tatame se traduzem em melhorias no dia-a-dia.
Praticantes têm relatado benefícios mesmo a nível de caráter, ajudando a desenvolver humildade, respeito, cooperação e compaixão.
Nesta série de artigos, vamos explorar em detalhe os benefícios do BJJ – reforçados por dados do Judô, dada a origem comum e semelhanças – em diferentes faixas etárias, desde crianças até idosos. Cada etapa da vida colhe vantagens únicas, embora muitos benefícios se mantenham ao longo dos anos, adaptando-se às necessidades de cada praticante. Se já és um praticante, tenho a certeza de que este artigo pode te motivar ainda mais. Mas se ainda não experimentaste os inúmeros benefícios desta arte marcial, quem sabe este artigo não te incentive a experimentar uma aula experimental conosco 😉. No artigo de hoje vamos entender como o Brazillian Jiu-Jitsu (ou BJJ) pode beneficiar e muito o seu filho ou filha entre os 4 a 12 anos.
Adultos (36–65 anos)
Na idade adulta madura – dos trinta e muitos aos sessenta e poucos anos – as prioridades de saúde e bem-estar ganham novos contornos. Muitos já não procuram tornar-se atletas de topo, mas sim manter a forma, aliviar o stress e envelhecer com qualidade de vida. É também uma fase em que responsabilidades profissionais e familiares se acumulam, tornando ainda mais valioso ter uma atividade que cuide tanto do corpo quanto da mente. O BJJ e o Judô brilham neste contexto, oferecendo benefícios de longevidade ativa.
Em termos físicos e de saúde, a prática consistente destas artes ajuda a contrariar tendências naturais do envelhecimento, como a perda de massa muscular, a diminuição da densidade óssea e o abrandamento metabólico. Estudos mostram que programas de treino inspirados no Judô para adultos de meia-idade podem aumentar a densidade mineral óssea, particularmente em mulheres após a menopausa em tratamento de osteoporose ( Judo for older adults: Learning to fall (safely) ). Isto é significativo – significa que mesmo começando mais tarde, o estímulo de carregar o peso do próprio corpo, de projetar e ser projetado (de forma controlada), pode sinalizar ao organismo para fortalecer os ossos, reduzindo o risco de osteopenia e fraturas. Também a força muscular e o equilíbrio beneficiam: em adultos a partir dos ~45 anos, intervenções com exercícios de Judô resultaram em ganhos de força e melhoria do equilíbrio e da marcha ( Judo for older adults: Learning to fall (safely) ). Na prática, isto pode querer dizer menos quedas ao caminhar na rua e mais facilidade em atividades corriqueiras (subir escadas, carregar compras) no dia-a-dia. O Judô, em particular, dá ênfase a técnicas de queda segura – ukemis – que ensinam a cair sem se magoar, algo extremamente útil para quem está nos 50-60 anos e quer prevenir lesões caso escorregue ( Judo for older adults: Learning to fall (safely) ) ( Judo for older adults: Learning to fall (safely) ). O BJJ, por seu foco no chão, reduz o impacto de quedas, mas muitos dos seus movimentos também melhoram a mobilidade articular e a coordenação.
Manter um regime regular de BJJ ou Judô nessa idade auxilia igualmente no controlo de peso e na saúde cardiometabólica. A intensidade moderada a alta dos treinos ajuda a queimar calorias, controlar a glicemia e a pressão arterial. Uma revisão científica salientou que praticantes de BJJ tendem a ter melhores indicadores cardiovasculares em repouso do que indivíduos sedentários, fruto do condicionamento adquirido nos treinos (Sports Exercise Science – The Sport Journal). Ou seja, um praticante de 45 anos que treine algumas vezes por semana pode apresentar um perfil de saúde comparável (ou melhor) ao de alguém uma década mais novo que não pratique atividade física.
No que toca à vida profissional e gestão do stress, muitos adultos encontram no tatame um santuário após um dia cheio. O ato de vestir o kimono e pisar o tapete já sinaliza ao cérebro que é hora de desligar das preocupações externas e focar em si mesmo. Esse momento de autocuidado tem impacto mensurável: diminuem os níveis de cortisol (hormona do stress) e melhora o humor. Diversos praticantes nessa faixa etária relatam que o Jiu-Jitsu os torna profissionais mais equilibrados – problemas do trabalho que antes os tiravam do sério passam a ser encarados com calma, porque aprenderam a gerir a adrenalina e a pressão nos rolos de BJJ. Conforme destaca um artigo da Federação Internacional de Jiu-Jitsu, o treino regular constrói resiliência: ao enfrentar posições difíceis e encontrar soluções no BJJ, o praticante adulto desenvolve paciência e capacidade de resolução de problemas sob pressão, habilidades que aplica no escritório e em casa (IBJJF | International Brazilian Jiu-Jitsu Federation). Muitos atestam sentir-se mentalmente mais afiados e produtivos após incorporar o Jiu-Jitsu na rotina, conseguindo pensar com clareza e manter o foco no meio do turbilhão de tarefas (IBJJF | International Brazilian Jiu-Jitsu Federation). Além disso, superar os pequenos desafios diários do treino reforça a ideia de que sempre é possível melhorar – um estado de espírito útil para evitar acomodação na carreira ou projetos pessoais.
Outro benefício relevante nesta idade é a redução de hábitos prejudiciais e a melhoria do estilo de vida. Homens e mulheres de meia-idade frequentemente usam o BJJ/Judô como catalisador para mudanças positivas: ao verem progresso no tatame, motivam-se a comer melhor, dormir mais cedo e moderar consumo de álcool/tabaco para não prejudicar o desempenho. Há relatos de praticantes que deixaram de fumar ao começar Jiu-Jitsu, aproveitando a oportunidade para redefinir a saúde – “deixei o tabaco e agarrei-me ao Jiu-Jitsu; há mais de dois anos que não fumo” partilhou um praticante, creditando ao BJJ a força para abandonar o vício (How has BJJ changed your life? | Sherdog Forums | UFC, MMA & Boxing Discussion). Esse tipo de melhoria tem um efeito multiplicador: com pulmões mais limpos e corpo mais leve, os treinos rendem mais, o que por sua vez aumenta a satisfação e mantém o adulto no caminho saudável. Trata-se de um ciclo virtuoso de bem-estar.
Socialmente e até espiritualmente, muitos adultos encontram na comunidade do BJJ e do Judô um sentido de propósito e conexão. Aos 40 ou 50 anos pode ser difícil fazer novas amizades fora do círculo habitual, mas num dojo pessoas de diferentes gerações treinam lado a lado. Não é incomum ver num mesmo grupo um aluno de 22 anos, um de 45 e outro de 60, todos a partilhar técnicas e a motivar-se mutuamente. Essa quebra de barreiras etárias cria uma comunidade de apoio singular – uma segunda família – que enriquece a vida dos praticantes. Os valores éticos intrínsecos às artes marciais (honra, integridade, respeito) também servem de âncora moral. Muitos referem sentir uma espécie de crescimento interior: o tatame torna-se um espaço de introspeção, onde lidam com fracassos e conquistas num nível pessoal profundo, quase filosófico. Alguns chegam a chamar a prática de “caminho espiritual” no sentido laico – uma jornada contínua de autoaperfeiçoamento e autoconhecimento.
Finalmente, é importante sublinhar que nunca é tarde para começar. Exemplos práticos não faltam: Hélio Gracie, patriarca do Jiu-Jitsu, treinou até aos 95 anos de idade, tendo estado ativo no tatame até poucos dias antes de falecer (Too old to roll? Can I start BJJ if I’m over 40? – Gracie Castle Hill). E não era um caso isolado – hoje vemos academias cheias de quarentões, cinquentões e sexagenários de primeira viagem, todos a derrubar o mito de que “já não tenho idade para isso”. Há inclusive personalidades conhecidas, como o chef Anthony Bourdain, que iniciaram BJJ perto dos 60 anos e transformaram radicalmente o seu estilo de vida e saúde nos anos seguintes. Com os devidos cuidados (respeitar limites do corpo, focar na técnica em vez da força bruta, priorizar alongamento e recuperação), adultos de meia-idade conseguem evoluir no Jiu-Jitsu com segurança e colher recompensas enormes: sentem-se rejuvenescidos, mais confiantes no dia-a-dia e ganham a satisfação de aprender algo novo em plena maturidade. O recado é claro – “o melhor dia para começar era há 10 anos, o segundo melhor é hoje” – e muitos que deram esse passo descobrem um novo entusiasmo pela vida, provando que os 40 ou 50 podem muito bem ser “os novos 20”.
Conclusão
Do tatame para a vida, os ensinamentos e benefícios do Jiu-Jitsu Brasileiro e do Judô manifestam-se de forma abrangente. Crianças ganham saúde, disciplina e valores; adolescentes encontram um canal para a energia e uma bússola para o caráter; jovens adultos aprimoram corpo e mente, levando resiliência e foco às suas carreiras e relações; adultos de meia-idade redescobrem vitalidade, equilibram o stress e cultivam hábitos salutares; idosos mantêm-se ativos, autónomos e integrados socialmente, colhendo talvez o fruto mais precioso – anos a mais de vida com qualidade.
Comprovados por investigações rigorosas e ilustrados pelos testemunhos apaixonados de quem pratica, os benefícios do BJJ e do Judô transcendem o dojo. Cada faixa etária usufrui de vantagens adaptadas às suas necessidades, mas há um fio condutor comum: a prática marcial promove um estilo de vida positivo, onde corpo e mente se desenvolvem em harmonia. Através do esforço físico, aprendem-se lições de perseverança; através do confronto controlado, cultivam-se paz de espírito e autocontrolo. A velha máxima “mens sana in corpore sano” ganha vida no tatame – um praticante de Jiu-Jitsu/Judô tende a ser simultaneamente mais apto fisicamente e mais equilibrado mentalmente (IBJJF | International Brazilian Jiu-Jitsu Federation) (IBJJF | International Brazilian Jiu-Jitsu Federation).
É importante frisar que cada pessoa é diferente e os resultados podem variar. Também há desafios – lesões ocasionais, frustrações – mas mesmo estes ensinam prudência e superação. Com orientação adequada e respeito pelos limites individuais, os riscos diminuem e os retornos multiplicam-se. Seja a buscar uma atividade para o seu filho tímido, uma forma de se manter em forma aos 30, um escape ao sedentarismo dos 50 ou um estímulo cognitivo aos 70, o Jiu-Jitsu Brasileiro e o Judô oferecem um caminho: o “caminho suave” que nos leva a ser versões mais fortes, sábias e saudáveis de nós próprios. Quem o trilha, invariavelmente afirma – e a ciência corrobora – que os benefícios se fazem sentir em todas as áreas da vida, numa jornada de melhoria contínua que não conhece idades.
Referências (não citadas diretamente no texto):
- BJJTribes – “Looking at whether BJJ really DOES change your life or not”, discutindo relatos comuns de praticantes sobre mudanças de vida através do Jiu-Jitsu. (2021)
- Sherdog Forums – Tópico “How has BJJ changed your life?” com dezenas de depoimentos de praticantes (vários autores, 2014) sobre benefícios percebidos (ex.: abandono do tabaco, controlo da raiva, novas amizades, etc.).
- MiddleEasy – “The 10 Life Changing Benefits of Brazilian Jiu Jitsu”, artigo enumerando benefícios chave do BJJ (confiança, forma física, paciência, círculo social, etc.) de forma acessível, por Tomislav Zivanovic. (2020)
- Easton Training Center Blog – “How Martial Arts Change Lives”, relato pessoal de um praticante que superou ansiedade e comportamentos autodestrutivos através do BJJ, enfatizando melhorias em bem-estar e visão de si mesmo. (s.d.)
- Collura, G. L. (2018). “Brazilian Jiu Jitsu: A tool for veteran reassimilation.” Dissertação de Mestrado, University of South Florida. – Explora o BJJ como terapia para veteranos (PTSD, integração social).
- Sugden, J. T. (2021). “Jiu-jitsu and society: Male mental health on the mats.” Sociology of Sport Journal, 38(3), 218–230. – Estudo sobre motivação masculina no BJJ e impactos na saúde mental.
- Stout, J. R., et al. (2011). “Judo for Children and Adolescents: Benefits of Combat Sports.” Strength & Conditioning Journal, 33(6), 60–63.* – Artigo de revisão destacando benefícios físicos e psicossociais do Judô em jovens, incluindo melhorias de auto-disciplina e respeito.
- Gracie Castle Hill Academy – “Too old to roll? Can I start BJJ if I’m over 40?”, artigo motivacional mencionando Helio Gracie treinando até aos 95 anos e exemplos de iniciantes de BJJ na meia-idade. (2020)